Os estudantes que nunca chumbaram, mas durante o ano lectivo tiram más notas, têm habitualmente uma auto-estima mais baixa do que os alunos que já reprovaram, segundo revela um estudo realizado pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA). Francisco Peixoto, docente da instituição, coordenou um trabalho de investigação junto de adolescentes portugueses para tentar perceber o efeito do
insucesso escolar nos níveis de auto-estima.
“Quando comparamos alunos que nunca repetiram ano nenhum com alunos que têm pelo menos uma repetência verificamos que têm níveis de auto-estima semelhantes”, contou à Lusa Francisco Peixoto.
Isto porque, perante o insucesso escolar, os estudantes têm tendência a investir noutras áreas do autoconceito para conseguir manter uma imagem positiva de si próprios. “Quando o autoconceito académico é mais baixo, acabam por compensar isso com outras áreas como a das relações sociais, do desporto ou das relações interpessoais com o sexo oposto”, explicou o investigador.
De acordo com a investigação, a redução da auto-estima acontece apenas na primeira vez que reprovam. “O que marca a diferença é terem repetido um ano. Depois, a 2ª ou 3ª repetência é indiferente porque o autoconceito académico já estabilizou e não baixa muito mais”, refere.
Afinal, quem tem a auto-estima mais em baixo são os alunos que nunca chumbaram, mas vivem durante o ano lectivo a possibilidade de tal acontecer. No caso dos estudantes "que durante o ano tiveram duas, três ou quatro negativas e, depois, conseguem passar, pode haver uma tendência para baixar a auto-estima. A aproximação de um eventual insucesso provoca uma diminuição na auto-estima global, por achar que se calhar vai falhar”, disse ainda o professor do ISPA.
Sentimento de pertença
Estes alunos, ao contrário do que acontece com os que reprovam, sentem que pertencem à escola e consideram que a educação é importante. Dão valor às notas e aos resultados. Nos casos em que os jovens não conseguem lidar com o insucesso e mantêm a auto-estima baixa a situação pode tornar-se preocupante. O investigador lembra que a depressão está associada a níveis baixos de auto-estima e que, nestes momentos, a família desempenha um papel importante, porque “pode ter um efeito amortecedor”.
À família cabe a responsabilidade de fazer perceber ao jovem onde estão as causas de insucesso e de o “fazer ver que há outros aspectos na vida que são igualmente importantes”.
“Na adolescência, a escola ocupa grande importância e o facto de estar mal na escola pode ser compensado por outras áreas da vida. Claro que se aprenderem a lidar eficazmente com a situação, acabam por se tornar mais adaptados”, defendeu o investigador, que na quinta-feira vai apresentar o estudo no ISPA, durante a conferência «A construção do autoconceito e da auto-estima na adolescência».
Artigo retirado de
Ciência Hoje